segunda-feira, 23 de maio de 2011

Entrevistas-Parte 1-Perguntamos aos Autores XII

Alícia Azevedo (autora brasileira)


1-O que te leva a escrever literatura fantástica?
Eu amo a literatura fantástica. Lê-la ou escrevê-la é como fugir da realidade e transitar num limbo mágico onde todas as coisas são possíveis, mesmo as impossíveis. As coisas perdem os significados banais cotidianos e passam a ter novos, diversificados, interessantes e algumas vezes mais expressivos. E além do mais, a literatura fantástica é tão ampla e abrange tantos "subgêneros" que é difícil não se apaixonar por nenhuma dessas facetas. É simplesmente um universo grande demais para ser ignorado.

2-Você acha que esse tipo de literatura, tem uma rejeição maior nos países de língua portuguesa, já que não temos grandes nomes da literatura fantástica mundial, de origem em nosso idioma?
Acho que temos sim grandes nomes da literatura fantástica na lígua portuguesa, mas como são nomes "grandes demais", digamos assim, são chamados apenas de literatura. Eu os chamaria de outro jeito. Por exemplo: Ubaldo no Mistério da Ilha do Pavão; Veríssimo no Incidente em Antares; Machado de Assis em Memórias Póstumas; O Coronel e o Lobisomem de José Candido de Carvalho e Monteiro Lobato. Até o imortal best-seller Paulo Coelho (se você me disser que o que ele escreve não é literatura fantástica, além de auto ajuda, eu não saberia como classificar...). Como dizer que Diário de um Mago, Brida, o Alquimista etc, não é literatura fantástica já que o fantástico permeia todas as tramas?
Acho que existem excelentes escritores de literatura fantástica brasileira, mas parece, que por preconceito ou desconhecimento, quando eles atingem certo patamar, ou status, passam a ser literatura, independente de ser ou não fantástica. Isso me entristece. A literatura fantástica seria enormemente beneficiada se pudesse contar com esses nomes.

3- Quando foi que você teve o primeiro contato com a literatura fantástica? E quando resolveu escrever?
Escrevo desde criança, mas de um jeito ou de outro tratava sempre da realidade. Era chato, e massante, e muito ruim para falar a verdade. Mas acho que sempre tive em mim essa vontadede escrever, só tive que descobrir que precisava mudar o meu foco para que a escrita deixasse de ser chata. Lia muita literatura fantástica sem saber o que era. Adorava Poe, Conan Doyle, Agatha Christie, os mitos (principalmente os gregos), quadrinhos e estórias infantis (era apaixonadas por elas). Mas foi na faculdade que me mostraram a boa literatura fantástica. Meu namorado, que agora é marido, me deu de presente 'O Senhor dos Anéis'. Fiquei tão encantada que devorei o livro. Depois não parei mais. Li tudo de Tolkien que tinha disponível na época, li Musashi, Conan o Cimério, C.S. Lewis (e não gostei muito). Li 'Entrevista com o Vampiro' e adorei a Claudia. E no meio desse monte de coisas comecei a descobri do que gostava e do que não gostava no gênero. Já era aficcionada por 'Arquivo X', acho que só precisei de um empurrãozinho para cair de cara no mundo fantástico.

4-Em que lugar você busca inspiração para escrever suas histórias?
De tudo que eu li, vi e vivi, sempre surgiram ideias. Às vezes elas rendiam, as vezes não, mas onde mais me inspiro é nos sonhos. Sempre tive sonhos loucos, acho que por isso gosto tanto de dormir. Muitas das minhas estórias vem deles. Quando fiquei desempregada costumava tirar um cochilo de tarde com meu gato, Napoleão. Nessa época, sempre que eu dormia sonhava com a mesma coisa. Eu dizia para o meu marido que o gato estava me contando uma estória e que eu devia escrever. Ele ria de mim e dizia que eu estava há muito tempo sem fazer nada, na verdade estava, pois fiquei quase dois anos desempregada. Mas o fato é que quando eu terminei o livro e ele leu, começou a respeitar mais o gato. Ainda não consegui publicá-lo, mas não perdi a esperança!

5-Você acha que ainda há espaço no Brasil ou Portugal para novos escritores de literatura fantástica?
Acho que espaço tem sim, o que falta é uma chance com as editoras. Publicar livros é um negócio, e no Brasil as pessoas preferem o certo ao duvidoso. Ainda bem que existem pequenas editoras que acreditam nesse gênero e investem nele.

6-Em se tratando de literatura fantástica, o que é mais difícil: Escrever, encontrar uma editora ou adquirir novos leitores para o gênero (no Brasil/em Portugal)?
Sobre Portugal não sei muito bem como está. Sei que os escritores portugueses são bem aceitos no Brasil e até acredito que a recíproca seja verdadeira, mas o público ainda não está totalmente convencido de que é melhor comprar a literatura fantástica de uma autor nacional ao invés de um internacional (por mais inexperiente que sejam os dois). Escrever é fácil, mas só em partes. Depois tem revisão, leitura crítica e outras coisas que custam caro sem a ajuda de uma editora. Por outro lado arrumar uma boa editora é um trabalho hercúleo, mas acredito que, se você conseguir os dois primeiros, o público vem.

7-Em sua opinião, a literatura fantástica ainda enfrenta algum preconceito, por parte de quem não conhece o gênero?
Acho que as pessoas não sabem o que é literatura fantástica, e por isso tem preconceito. Se soubessem, saberiam que já gostam.

8-A mídia, em geral, ainda abre pouco espaço para a literatura fantástica? Se a resposta for sim, o que você acha que falta?
A mídia em geral funciona como as grandes casas editoriais. Eles tem um espaço pequeno para divulgar novos lançamentos de livros e para se chegar a esse espaço é uma briga de foice. Editoras grandes lançam em torno de 20 novos livros por mês, isso contando por baixo, e todo mundo quer seu livro divulgado, só que não há espaço. Acho que para sair disso só no Q.I. ou na sorte. Mas as mídias digitais, por outro lado, tem espaço de sobra, e muito boa vontade. Na minha opinião, elas são a solução. Uma vez que o livro estoura na internet, logo chega aos jornais e revistas. Um exemplo disso em 2010 foi o Eduardo Spohr.


Entrevistador: Tomi Farias

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